Prefeitura de Altamira conclui missão de ajuda humanitária a famílias isoladas pela seca na Resex Riozinho do Anfrísio

Parceria com Governo do Pará entregou 240 cestas básicas na região Riozinho do Anfrísio.

Fotos: Rômulo D’Castro

É durante a seca que moradores da Amazônia, conhecida pela abundância de rios, lagos e igarapés, padecem diante da escassez de água e alimento. Na Reserva Extrativista Riozinho do Anfrísio, em Altamira, Sudoeste do Pará, a estiagem extrema isolou mais de 120 famílias. Cerca de 600 pessoas sofrem os impactos causados pela falta de chuvas. Com o rio seco a pesca fica comprometida e comprar alimento dos chamados regatões (comerciantes que vendem produtos em barcos) se torna uma prática extinta. Sem rios navegáveis é impossível chegar às comunidades.

Uma das piores secas das últimas décadas, ocasionada pelo fenômeno El Niño, acendeu o sinal vermelho no maior município do Brasil, em extensão territorial, e resultou em uma força-tarefa para levar alimento aos impactados. Após acionar o Governo do Estado, a Prefeitura teve apoio do Grupamento Aéreo de Segurança Pública – Graesp. Durante uma semana, helicópteros sobrevoaram a Resex Riozinho do Anfrísio carregando servidores da Defesa Civil e Assistência e Promoção Social, além de 240 cestas básicas.

Entre as 120 famílias que receberam a ajuda está a do pescador Francisco Santos da Silva, um dos primeiros moradores a habitar o Riozinho, em uma época de grandes dificuldades, mas nada parecido com o que ele e a família têm visto este ano. “É um sacrífico pra nós, porque a gente ia se manter de que? Porque não tem regatão, como a gente chama, então a gente tá passando uma dificuldade muito grande nessa situação dessa ‘sequidão’ que eu nunca tinha visto; eu tinha visto uma sequidão em 1974, e de lá pra cá, nunca mais tinha visto”, puxa na memória Chico preto, como é conhecido na comunidade.

As famílias que receberam ajuda fazem parte de um levantamento feito pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) realizado nos seguintes polos: Lajeado, Boa Saúde, Riozinho do Anfrísio e Morro Verde. A seca recorde deixa as comunidades totalmente isoladas e aumenta o tempo de viagem, isso quando é possível acessar os escassos pontos em que ainda sobrou um pouco de água. Sônia Maria, moradora há 49 anos da Resex, foi tomada pelo espanto quando retornou para a comunidade após um período na zona Urbana.

“Eu vim de Altamira tem 10 dias, mas é uma sequidão que Deus o livre. A voadeira não podia nem andar rápido, mas, mesmo assim, a gente chegou aqui. Da Maribel [comunidade entre a cidade e a Resex] a gente levou 2 dias. E, pra gente é muito importante [a ajuda] até porque tem muitos aqui que não têm nada, e pra gente é muito bom o pessoal trazer uma ajuda dessa aí, é um quebra-galho demais”, explica a produtora rural que, mesmo com as intempéries, se declara apaixonada por sua terra natal.

A operação comandada pela Prefeitura de Altamira teve, além das equipes da Defesa Civil de Altamira, da Secretaria Municipal de Segurança Pública, Mobilidade Urbana e Articulação da Cidadania (Segmuc), e Graesp, parceria com o Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Prefeitura de Rurópolis, que cedeu o espaço no Colégio Estadual Eurico Vale onde ficaram as cestas básicas, e o campo de pouso dos helicópteros modelo esquilo, um deles comandado pelo Coronel Vidal. “Essa é uma aeronave extremamente eficiente para situações dessa natureza, onde precisamos abordar alguns pontos de difícil acesso em regiões de mata, como foi essa comunidade que visitamos”, explica o piloto do Graesp.

“(A ajuda) é importante porque essa época da seca, como a gente chama aqui, fica mais difícil chegar o rancho, [que são] as mercadorias necessárias pra gente aqui. A gente não está passando mal, mas qualquer ajuda nessa época é boa, porque tá muito seco pra chegar o rancho aqui. E, a gente agradece à Prefeitura por essa ação que está sendo feita nas nossas comunidades e que é uma coisa que nos ajuda muito nessa época do ano”, comenta Raimundo da Silva, representante da comunidade Morro Verde.

Durante a missão, além de entregar cestas básicas, a Prefeitura de Altamira atualizou o censo nos quatro polos visitados. As informações serão usadas em eventuais novas operações, no verão, que ainda tem algumas semanas até acabar, ou no inverno, quando o problema é a inundação provocada por grandes cheias.

Decreto de Situação de Emergência Climática

A Segmuc e Semma solicitaram um Decreto de Situação de Emergência Climática na RESEX do Riozinho do Anfrísio, e no dia 04 de outubro deste ano, após identificada a situação, a prefeitura de Altamira emitiu o Decreto Oficial devido à estiagem ocasionada pelo fenômeno climatológico El Niño, pelo que se gerou estado de vulnerabilidade socioeconômica, ambiental e técnica, o que acarretou prejuízo econômico uma vez que inviabiliza o escoamento da produção extrativista, agrícola e pecuária da zona rural para a cidade.

“A princípio nós montamos uma força tarefa que envolvia 8 profissionais, só que montamos uma logística por água, só que levaríamos em torno de 15 dias para concluir a missão, e a prefeitura pediu apoio ao governo do estado, que mandou os helicópteros do Graesp nos dá apoio, para dinamizar o nosso trabalho. Porque estamos em locais muito isolados, e estivemos em outras comunidades como Lajeado e Anfrísio, onde ainda é mais crítico do que aqui, onde é preciso descer da embarcação e arrastar, se não, não consegue transpor”, explica o chefe da Defesa Civil de Altamira, Oduvaldo Junior.

Após a publicação do Decreto, a Secretaria de Segurança Pública (Segmuc) informou que o documento será encaminhado através da Plataforma Federal S2iD, para solicitar recurso Federal e Estadual, pois a prefeitura entendeu ser necessário realizar inicialmente essa primeira ação com recursos próprios e analisar de perto o desastre para então solicitar ajuda com recursos via governo estadual e federal.

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